segunda-feira, 5 de outubro de 2009

OMG News: Universidades no Irã podem sofrer controle ideológico para retomar "ensino islâmico"


Enquanto as universidades iranianas se preparam para voltarem às aulas neste mês, há uma preocupação crescente dentro da comunidade acadêmica que o governo vá expurgar departamentos de ciências sociais e políticas, eliminando professores e currículos considerados "não-islâmicos", de acordo com analistas de dentro e de fora do Irã.

Os temores foram despertados por discursos recentes do supremo líder aiatolá Ali Khamenei e do presidente Mahmoud Ahmadinejad, assim como por confissões de prisioneiros políticos. Eles sugeriram que o estudo de tópicos e ideias seculares fizeram das universidades incubadoras da inquietação política exposta após as eleições presidenciais disputadas em junho.

Khamenei disse nesta semana que o estudo de ciências sociais "promove dúvidas e incertezas". Ele instou "defensores ardentes do islã" a revisarem as ciências humanas que são ensinadas nas universidades iranianas e que "promovem o secularismo", de acordo com serviços de notícias iranianos.

"Muitas humanidades e artes liberais são baseadas em filosofias cujas fundações são o materialismo e a descrença nos ensinamentos santos e islâmicos", disse Khamenei em um encontro de alunos e professores universitários no domingo, de açodo com a Irna, agência de notícias do governo. "O ensino dessas ciências leva à perda da crença no conhecimento santo e islâmico".

Por anos, o estudo de assuntos como filosofia e sociologia tem sido visto com suspeita por conservadores iranianos. No início da Revolução Islâmica, os líderes da nação fecharam universidades e tentaram modificar os currículos para encaixar sua ideologia revolucionaria islâmica. Os esforços, no final, fracassaram sob o peso de forças mais pragmáticas que queriam intercâmbio com as economias Ocidentais e de uma população estudantil com fome de ideias contemporâneas e de contato com o Ocidente.

Esse fracasso, contudo, nunca curou as diferenças ideológicas que tornaram impossível à nação e suas instituições híbridas, religiosas e eleitas, a concordarem com um curso único, uma única identidade. Nos últimos anos, acadêmicos que participaram de conferências no exterior ou tomaram parte em programas de intercâmbio cultural muitas vezes foram caluniados ou vistos com suspeita em casa.

Alguns foram presos, acusados de tentar organizar uma revolução suave.

Os discursos recentes dos líderes do país sugerem que talvez não estejam mais dispostos a conviver com tal ambiguidade, após meses tentando extinguir a crise política e social gerada pela eleição, sem sucesso.

"O Irã está passando por uma crise de legitimidade do regime, e a crise se baseia na incapacidade deste em responder às demandas por reforma de uma população cada vez mais jovem", disse Mark Fitzpatrick, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Londres. "A única resposta que consegue pensar é parar de ensinar ciências sociais."

Rasool Nafisi, acadêmico especialista em Irã que mora em Virgínia, concordou. "A declaração de Khamenei não é bom presságio para as universidades iranianas", disse ele. "Ele parece tentar recomeçar de onde a república islâmica parou há duas décadas, quando o falecido aiatolá Khomeini expressou aversão similar ao 'aprendizado intoxicado do Ocidente' nas universidades e ordenou o expurgo de tudo o que não fosse ciências naturais do currículo universitário", disse Nafisi, referindo-se ao aiatolá Ruhollah Khomeini.

O atual líder supremo, Khamenei, pediu a "promoção de um ambiente espiritual nas universidades" e que o governo de Ahmadinejad tivesse isso como uma "preocupação séria", de acordo com serviços de notícias iraniano.

Durante o primeiro mandato de Ahmadinejad, seu governo forçou a demissão de muitos professores, que foram substituídos.

"Acho que eles não gostam que novas ideias cheguem ao Irã. Eles não gostam que figuras sociais e culturais na sociedade se tornem muito populares. Esse é o aspecto que cria problemas para eles", disse um acadêmico iraniano que atualmente mora fora do país. Ele pediu para não ser identificado porque espera voltar e tem medo de represálias.

O foco renovado do Estado na educação tomou o palco central na semana passada, quando a confissão de um reformista proeminente, Saeed Hajjarian, que tinha sido o teórico por trás do movimento de reforma, foi lida em um tribunal e transmitida em cadeia nacional.

A confissão, negada por líderes reformistas como a opinião dos encarceradores de Hajjarian, foi uma longa crítica às ciências humanas, especialmente sociologia e ciências políticas. Ela lamentou a influência negativa de teorias como o "pós-estruturalismo, o pós-marxismo e o feminismo".

A confissão também desprezou certas teorias políticas adotadas por Hajjarian em seu próprio trabalho: "Por essas interpretações sem valor, que se tornaram a causa de muitos atos imorais, peço perdão ao povo iraniano."

Fonte: The New York Times

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