A campanha eleitoral deste ano invadiu o Twitter. Dos 58 candidatos a senador e deputado da região de Rio Preto, 35 alimentam a rede social on-line, onde discutem propostas, comentam o noticiário ou simplesmente informam a agenda eleitoral para 88.943 seguidores, equivalente à população de Votuporanga.
O alto número de espectadores dos candidatos é inflacionado por Alexandre Costa, que disputa uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PTB. Sozinho, ele tinha, até a última quinta-feira, 76.869 seguidores no Twitter - o deputado federal Regis de Oliveira (PSC), segundo colocado, tem 1.059 tuiteiros fiéis.
Tanta popularidade, segundo Costa, é fruto de uma estratégia eleitoral planejada com muita antecedência. “Há um ano e oito meses comecei a montar uma rede forte de apoio político pela internet enviando milhares de direct messengers (convites privativos pelo Twitter). Como sabia que teria poucos recursos para investir em uma campanha tradicional, investi muito nas redes sociais”, diz.
Além da dedicação, Costa diz ser necessário ter estratégia para ganhar popularidade no Twitter. “Em abril, eu e uma rede de blogueiros descobrimos uma lei que permitia o sacrifício de animais para rituais de magia negra no Rio Grande do Sul. Postei mensagens denunciando os maus-tratos que foram sucesso imediato. Na época, cheguei a ficar em primeiro lugar em número de acessos no Brasil”, afirma.
Tanto sucesso, porém, é efêmero - dura no máximo três dias, segundo o candidato. Por isso, Costa tem dúvidas quanto à eficácia eleitoral da ferramenta. “Se o 1401 (número dele na urna) ficar em evidência nos dias que antecedem as eleições, minhas chances de ser bem votado são grandes. O problema é como provocar esse fenômeno. Ninguém sabe.”
Para o especialista em marketing político Sullyvan Andrade, as redes sociais na internet ainda são instrumentos acessórios nesta campanha. “O corpo a corpo continua a ser a estratégia mais eficaz. O eleitor brasileiro ainda não dá tanta relevância à internet como espaço de debate político, diferente dos Estados Unidos. Aqui, a influência do Twitter é muito incipiente”, diz.
A maior vantagem da rede, afirma Andrade, é atrair o público jovem para a campanha. Para isso, no entanto, é preciso que o candidato esteja antenado nos assuntos de momento desse público. Rodrigo Garcia, postulante a uma vaga de deputado federal pelo DEM, chegou a contratar uma empresa que rastreia os assuntos da moda na web e repassa ao candidato, que então comenta o tema no Twitter.
Assessoria
Os candidatos donos das páginas mais populares do Twitter garantem escrever e postar a maioria dos comentários, embora admitam contar com a ajuda de suas assessorias. “Há momentos em que eu não consigo (acessar a internet) do local onde estou em campanha, então dito as mensagens para minha assessoria”, diz Beth Sahão (PT), 720 seguidores.
Fernando Lucas (DEM), que arrasta consigo 942 tuiteiros, usa o celular para postar as mensagens. “Sou um entusiasta das novas tecnologias. Futuramente, as redes sociais terão papel decisivo na eleição. Agora, dá para conquistar alguns votos.” Ele afirma ter uma relação de 10 mil endereços de e-mail, com quem se comunica com frequência. “Mil dessas pessoas estão me ajudando voluntariamente na campanha.”
Mesmo candidatos com perfil mais “tradicional” aos poucos se adaptam à ferramenta. “É uma forma de me fazer presente na região”, diz Vadão Gomes (PP), deputado federal candidato à reeleição. Quando não é a assessoria, o próprio candidato afirma escrever as mensagens, após o almoço ou no início da madrugada. “Depois da eleição, vou continuar”, diz.
Obama inaugurou mania entre políticos
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, é o grande inspirador da atual invasão do Twitter pelos candidatos brasileiros. Na última campanha presidencial americana, em 2008, o democrata investiu cerca de 16 milhões de dólares em propaganda eleitoral na internet. O resultado foi imediato: um único vídeo postado no site da campanha chegou a ter 5 milhões de acessos. Seu link no Twitter chegou a 144 mil seguidores, enquanto ele seguiu mais de 168 mil internautas. Hoje, Obama tem mais de 5 milhões de seguidores.
“Ao fazer toda essa parafernália tecnológica trabalhar a seu favor, Obama atingiu da maneira mais direta os seus eleitores. E, com muita eficácia, ele se aproximou das pessoas produzindo a ideia de que era alguém à distância apenas de um clique do seu eleitor. A impressão resultante desta análise é a de que, para o eleitor-internauta americano, ao estabelecer esse ambiente de diálogo durante a campanha, Barack Obama não estava fazendo apenas publicidade”, escrevem o cientista político Wilson Gomes em artigo acadêmico divulgado na internet.
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