Dos
dois lados da fronteira, o temor e a incerteza unem palestinos e
israelenses. Moradores da Faixa de Gaza e de todo o Sul de Israel
passaram os últimos dois dias monitorando os céus, com medo de se
tornarem o próximo alvo dos bombardeios mútuos.
Ideologia e nacionalidade à parte,
famílias inteiras vivem noites de insônia e passam os dias dentro de
casa. Cidades inteiras, tanto em Gaza quanto em Israel, estão às moscas.
“Gaza é uma cidade fantasma. Tudo está
fechado, escolas, comércio. Tem gente sem eletricidade, sem água”, conta
o jornalista palestino Yousef Al-Helou, de 32 anos, pai de três filhos.
“Há muito medo nas ruas a cada som de explosão de bombas israelenses ou
lançamento de mísseis pelos grupos de resistência palestinos. Todos se
preparam, agora, para uma possível entrada de soldados por terra”.
O jornalista pediu para que sua mulher
se mudasse temporariamente, com os filhos, para a casa de sua sogra,
onde, acredita, todos estarão mais seguros. Enquanto isso, ele ignora o
medo e trabalha em campo, em busca de histórias que possam ser de
interesse de jornais locais e de internacionais.
O clima de pavor também é descrito pelo
blogueiro Sami Abu Salem, de 40 anos, pai de três filhos, morador do
campo de refugiados de Jebalyia, no Norte da Faixa de Gaza. Segundo ele,
os palestinos temem uma repetição da “Operação Chumbo Fundido”, que
durou 22 dias entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009.
Lembranças ruins
O
trauma na população ainda é latente e faz com que todos tomem
precauções, correndo para supermercados para comprar enlatados e fazendo
fila nas padarias.
O blogueiro Abu Salem conta que ele e
seus filhos não conseguem dormir desde o começo das explosões
decorrentes da operação “Coluna de Fumaça”, como foi batizada a operação
das forças israelenses que mataram, anteontem (dia 14), Ahmed
al-Jabari, líder do braço armado do Hamas, as Brigadas de Izz el-Din
al-Qassam.
Abu Salem não sabe, mas, do outro lado
da cerca que separa a Faixa de Gaza de Israel, o mesmo problema tira o
sono da enfermeira israelense Racheli Friker, de 59 anos, moradora do
Kibutz — nome dado às cooperativas agrícolas — Beeri, a apenas um
quilômetro da região palestina.
“Não consigo fechar os olhos, porque
toda vez que eu tento, soa mais uma sirene avisando que temos que nos
esconder. Isso tem acontecido de 20 em 20 minutos. É aterrorizante!”,
conta Racheli. “
Paredes de aço
O mesmo acontece com a professora Vered
Abutbul, de 43 anos, mãe de cinco filhos, que está hospedando, em sua
casa no vilarejo de Meitar, boa parte da família que foge dos
bombardeios a Beer Sheva, onde, assim como em Gaza, as famílias encheram
a dispensa de comida. O motivo da hospedagem: sua casa tem um quarto
reforçado com paredes de aço onde cabem 15 pessoas.
Além do medo e da tensão, no entanto,
palestinos e israelenses dividem outro sentimento ainda mais
debilitante: a falta de esperança.
“Não vejo um fim para esse conflito”, balbucia o palestino Yousef Al-Helou, ecoando o que diz a “vizinha” israelense.
“Essa guerra não tem jeito. Nunca terá fim”, diz Racheli.
Fonte: Extra
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