Candidata Dilma Rousseff vê demora em perceber a onda de boatos entre religiões; aliada alerta que tema pode custar Presidência.
Acuado pela perda de votos de evangélicos na reta final do primeiro turno, o PT ensaia deixar de lado a defesa programática da descriminalização do aborto e já planeja retirar a proposta do programa do partido, aprovado em congresso.
A medida deve ser discutida em reunião da Executiva do PT, como forma de responder aos rumores contra a candidata à Presidência, Dilma Rousseff, apontados como o principal motivo para o crescimento de Marina Silva (PV), contrária à legalização do aborto, e a consequente ida da disputa presidencial ao segundo turno.
O primeiro contra-ataque partiu do secretário de Comunicação do PT, André Vargas. "O Brasil verdadeiramente cristão não votará em quem introduziu a pílula do dia seguinte, que na prática estimula milhões de abortos: Serra", disse em seu Twitter.
A pílula do dia seguinte é um dos métodos contraceptivos criticado pela Igreja Católica e distribuída pelo Ministério de Saúde. Diferentemente do que Vargas sugere, sua adoção foi decidida antes de o tucano José Serra, rival de Dilma no segundo turno, ser titular da pasta.
O secretário de Comunicação do PT defende ainda o isolamento da ala do partido pró-legalização. "Agora é hora de envolver mais dirigentes na campanha. Foi um erro ser pautado internamente por algumas feministas. Eu e outros fomos contra".
Um dos coordenadores da campanha de Dilma, José Eduardo Cardozo, reconhece que a resolução do PT, pró-descriminalização do aborto, não é unânime no partido e não é a posição de Dilma.
Antes de ser candidata, Dilma defendia abertamente a descriminalização da prática --o fez, por exemplo, em sabatina na Folha em 2007 e em entrevista em 2009 à revista "Marie Claire".
Depois, ao longo da campanha, disse que pessoalmente era contra a proposta. Hoje, diz que repassará a discussão ao Congresso.
O tema se tornou tão incômodo que ontem, ao "Jornal Nacional", Dilma o citou mesmo sem ter sido questionada (ela teve um minuto e meio para "dar uma mensagem aos eleitores").
"Eu tenho uma proposta de valores. Um princípio nosso de valorizar a vida em todas as suas dimensões".
A senadora eleita Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que a defesa da descriminalização do aborto pode até ser defendida por algumas alas do partido, mas pode "custar a Presidência da República".
Já o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), puxador de votos evangélicos, disse que chegou a perder votos porque defendia Dilma, que "erroneamente" era associada a afirmações anticristãs.
Além do PT, o PMDB também defende uma ação para combater a associação de Dilma ao tema aborto, que virou onda de e-mails e comentários em meios religiosos.
Os peemedebistas querem que a candidata divulgue, enfim, um programa de governo deixando claro ser contra a legalização.
Ontem, Dilma reconheceu que a campanha percebeu muito tarde a onda associando seu nome ao tema do aborto e a uma fala, que ela não disse, de que nem Jesus Cristo tiraria dela a vitória.
Sobre a presença do presidente Lula na campanha, Dilma não precisou seu papel. "O presidente Lula a gente não pode falar em dose, ele não é o remédio é solução", disse.
Fonte: Folha de São Paulo
"Padre e pastor podem ter dificuldade para pedir votos, mas tiram fácil, fácil. Um pastor falou, por exemplo, que Michel Temer (PMDB-SP), vice de Dilma, era satanista e isso se espalhou como rastilho de pólvora", insistiu Crivella.
Uso enviesado. Para Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo da petista, a religião foi usada de forma "enviesada" no primeiro turno. "Se o fator religioso pesou da forma como está aparecendo, houve um desrespeito à religião, porque o uso dela para fins político-partidários não me parece que faça bem a nenhuma pessoa de fé", argumentou.
Evangélico e amigo de Marina, o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA) acha que Dilma precisa dar uma "resposta política" à polêmica em torno da legalização do aborto. "Não adianta se reunir com pastor nem com líder religioso", afirmou.
Com o mesmo argumento, o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse que a prorrogação da disputa é uma oportunidade para mostrar as diferenças entre Dilma e Serra. "Mas é preciso desfazer os mal-entendidos", ressalvou.
O caráter plebiscitário do embate será acentuado na propaganda eleitoral. "Temos grande chance de confrontar duas propostas e dois governos", comentou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Fonte: Estadão
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