quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Brasil pode estar caminhando para um apagão; entenda melhor

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, que avalia o suprimento de energia no país, se reúne na tarde desta quarta-feira (9), em Brasília, para discutir o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Correm rumores de um possível racionamento ou apagão de energia.

Devem participar da reunião o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, integrantes do ONS, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Agência Nacional do Petróleo (ANP), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE), da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel). Também foram convidados dirigentes da Eletrobrás e das associações do setor elétrico.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que os reservatórios do Nordeste operam com 31,61% da capacidade, e os do Norte, com 41,24%. Para suprir a demanda de consumo, todas as termelétricas estão em funcionamento.

Segundo a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste estão no mais baixo nível para o mês de janeiro desde 2001, ano do último racionamento de energia elétrica no país. A capacidade armazenada atual nos lagos das usinas é 28,9%.

Nesta terça-feira (8), a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, para atualizar os dados sobre a situação do sistema elétrico brasileiro. Apesar dos rumores de crise e, como consequência apagão, Zimmermann afastou a ameaça de racionamento e disse que o sistema opera de acordo com o equilíbrio estrutural para o qual foi planejado.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que o Brasil tem condições estruturais que dão segurança e tranquilidade ao setor elétrico e permitem descartar a possibilidade de um racionamento de energia. Segundo ele, a situação atual é diferente da que ocorreu em 2001 no país, quando houve blecaute.

Tolmasquim disse ainda que em 2001 não havia uma quantidade de usinas térmicas de reserva suficiente para funcionar como uma espécie de seguro ou “colchão” do sistema elétrico. Em relação às tarifas de energia, ele observou que a queda de 20%, que entrará em vigor em fevereiro, poderá ser afetada por fatores conjunturais, levando a redução a ser maior ou menor. Para ele, as avaliações feitas pelo governo sobre o cenário atual e as séries históricas dão tranquilidade ao setor.

Técnicos confirmam baixo risco de racionamento de energia

Quem espera um racionamento de energia para este verão já pode dormir mais tranquilo. Para alívio do governo, as chances de que o cenário de 2001, na era dos tucanos, se repita com os petistas são pequenas a curto prazo, confirmam especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil, fazendo coro ao que dizem as autoridades federais.

O baixo nível dos reservatórios nas principais hidrelétricas do país levantou rumores de que seria necessária uma redução da oferta de energia. Porém, para Jorge Alcaide, diretor de Energia da Wärtsilä, empresa de soluções energéticas, o cenário atual é “muito diferente” daquele de 12 anos atrás e não “existe possibilidade” de se viver a necessidade de uma nova economia energética. Segundo o especialista, a construção, a partir de 2005, de usinas termelétricas à base da queima de carvão está sendo fundamental para garantir a demanda energética, mesmo em condições naturais adversas.

“É importante ter este tipo de fonte de energia como ‘back-up’, como um seguro para momentos como este. Elas precisam existir pois não dependem do clima, do tempo. São mais poluentes e caras sim, mas é como um seguro de carro: você não quer usar, mas paga todo mês para emergências”, afirma.

Situação de risco

O engenheiro Luis Gameiro, diretor da consultoria Trade Energy, é mais cauteloso na sua análise. Para ele, ainda não se pode falar em racionamento nos próximos meses, mas dependendo do comportamento das chuvas, que são esperadas com mais força até março, a situação pode se agravar. “Existe uma previsão de chuvas, mas elas estão abaixo do esperado. Ainda estamos no início do período úmido, mas se até o final esta situação persistir, aí pode ser que haja alguma coisa mais crítica”, avalia.

A questão, no entanto, vai além do risco de racionamento. A produção energética a partir das usinas termelétricas é bem mais custosa do que a hidrelétrica e este valor extra deve ser repassado ao consumidor. O economista Julio César Insaurralde, presidente da consultora Verax, acredita que os maiores problemas na escassez de chuvas se darão exatamente por esta elevação dos custos. “Quando a oferta de hidroeletricidade cai, entra a energia térmica para dar cobertura, que tem custos de produção e geração mais altos”.

Redução no custo da luz pode ser menor

Neste cenário, as prometidas reduções na taxa de luz, anunciadas em setembro pela presidente Dilma Roussef, poderão ser menores do que o inicialmente previsto. O Brasil tem atualmente o quarto maior valor de energia elétrica do mundo. Com as reduções, passaria para a oitava posição, ainda atrás de Chile, México e Estados Unidos, por exemplo.

A diminuição dos custos é fundamental para que o setor industrial volte a ser competitivo e o Brasil acelere o crescimento da sua economia, além de reduzir os gargalos de infra-estrutura do país, apontados por economistas e especialistas do setor industrial como um de nossos entraves. Para que a luz tenha um preço mais competitivo, o governo brasileiro propôs reduzir os tributos, que correspondem a 50% do seu preço final na energia residencial. O estudo “Quanto Custa a Energia Elétrica para o Brasil”, da Firjan, mostra que o Brasil detém outro recorde mundial nos tributos ao se falar da energia destinada ao setor industrial: são 14 impostos que representam 17% do valor final cobrado aos industriais.

“As tarifas de energia elétrica junto à indústria brasileira impactam em demasiado sua competitividade, sob qualquer ótica que se observe. Empresas de todos os portes e segmentos são afetadas em todas as regiões do país, em especial nos estados com maior contribuição para a produção industrial brasileira”, analisa o estudo.

Sinuca de bico

Os problemas acabaram colocando o governo em uma sinuca de bico. As reduções na conta de energia elétrica contribuirão para o crescimento mais acelerado do país nos próximos anos. Porém, com um PIB mais alto e uma demanda maior por energia, os riscos de um racionamento aumentam, caso as chuvas voltem a “atrasar”. Os investimentos em outras matrizes energéticas, segundo o governo, têm acontecido, mas o ritmo de construção é lento frente aos problemas enfrentados pelo país.

No entanto, as ameaças de que a aceleração do país volte a sobrecarregar o setor elétrico não assustam Alcaide. “Se não estivéssemos fazendo nada para suprir esta demanda teríamos problema, mas há um série de usinas geradoras que deverão entrar em funcionamento neste próximo ano, e conseguirão fazer frente a esta demanda”, afirma.

Fonte: JB e Verdade Gospel

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