Uma autoridade britânica pressionou, na semana passada, para que os vídeos fossem removidos do YouTube
Sob pressão de autoridades americanas e britânicas, o YouTube removeu na quarta-feira de seu site alguns dos centenas de vídeos contendo chamados à jihad por Anwar al Awlaki, um clérigo nascido nos Estados Unidos e baseado no Iêmen, que tem exercido um papel cada vez mais público em inspirar violência contra o Ocidente.
Na semana passada, uma autoridade britânica pressionou para que os vídeos fossem removidos, e um congressista de Nova York, Anthony Weiner, enviou ao YouTube uma carta listando centenas de vídeos contendo o clérigo. Os pedidos ganharam maior urgência após duas bombas poderosas, escondidas em aviões de carga, terem sido interceptadas em rota do Iêmen para Chicago na sexta-feira, com o principal suspeito sendo um grupo baseado no Iêmen ao qual Al Awlaki é afiliado, a Al Qaeda na Península Árabe.
Em um e-mail, Victoria Grand, uma porta-voz do YouTube, disse que o site removeu os vídeos que violam suas diretrizes, que proíbem “atividades perigosas ou ilegais como fabricação de bombas, discursos de ódio e incitamento a atos de violência”, ou provenientes de contas “registradas por um membro de uma organização estrangeira considerada terrorista”, ou utilizadas para promover os interesses de um desses grupos.
Grand disse que o Google, o dono do YouTube, busca equilibrar liberdade de expressão com evitar incitação à violência.
“Estas são questões difíceis”, ela escreveu, “e o material que é trazido à nossa atenção é analisado cuidadosamente. Nós continuaremos removendo todo conteúdo que incita violência segundo as nossas políticas. Material de natureza puramente religiosa permanecerá no site”.
Em uma entrevista, Weiner disse que o YouTube lhe deu inicialmente uma resposta “burocrática”, mas pareceu levar seu pedido mais seriamente após as bombas terem sido encontradas.
“Está cada vez mais claro que este sujeito é um terrorista internacional, que está usando o serviço deles para fazer coisas ilegais”, ele disse.
A preocupação do Reino Unido com Al Awlaki e seu grupo cresceu na quarta-feira com dois desdobramentos. Uma mulher jovem que abraçou a causa dele e assistiu dezenas de horas de seus vídeos, foi sentenciada a prisão perpétua pela tentativa de assassinato em maio de um proeminente legislador, e uma importante autoridade do governo do primeiro-ministro David Cameron anunciou que um membro do grupo iemenita da Al Qaeda foi preso neste ano, em um plano de atentado a bomba contra o país, não revelado anteriormente.
Os órgãos de segurança do Reino Unido lidaram com dezenas de planos terroristas nos últimos anos, impedindo a maioria, mas sofrendo profundamente com o ataque ao sistema de transporte de Londres em julho de 2005, que deixou 56 mortos, incluindo os quatro homens-bomba.
Nos últimos meses, as autoridades de segurança daqui emitiram uma série de alertas, dizendo que ameaças cada vez mais sérias vêm de grupos inspirados por Osama Bin Laden e baseados no Iêmen, Somália e Norte da África.
Jonathan Evans, chefe da agência de inteligência doméstica do Reino Unido, o MI5, disse recentemente que Al Awlaki e a Al Qaeda na Península Árabe eram “uma preocupação em particular” diante de seu papel na tentativa de atentado a bomba de 25 de dezembro, em um avião de passageiros transatlântico com destino a Detroit, e “porque ele prega e ensina em língua inglesa, o que torna sua mensagem mais fácil de ser acessada e entendida pelo público ocidental”.
Detetives da Scotland Yard que investigaram o ataque contra o legislador disseram do lado de fora do tribunal que Roshonara Choudhury, uma estudante de teologia, assistiu aos vídeos no YouTube que mostravam trechos de sermões de Al Awlaki no Iêmen, no qual o pregador pede a muçulmanos de toda parte que se unam em uma guerra santa mundial contra o Ocidente. Em uma transcrição de seu interrogatório pelo “The Guardian”, ela falou em ter assistido centenas de horas dos vídeos dele. Ela disse que sua motivação era “punir” o legislador, Stephen Timms, por ter votado em 2003 a favor da participação do Reino Unido na invasão ao Iraque.
O advogado dela disse ao tribunal que Choudhury, 21 anos, cujos pais imigraram para a Inglaterra vindos de Bangladesh, era uma muçulmana moderada de “caráter exemplar”, sem elos com grupos terroristas, até ter começado a navegar por sites militantes muçulmanos.
Quando ela atacou, enquanto Timms se encontrava com eleitores e seu escritório em um subúrbio de Londres, ela vestia um vestido preto longo e lenço e véu cobrindo sua cabeça e revelando apenas seus olhos. Ela puxou uma faca de cozinha e o esfaqueou duas vezes no abdome.
Choudhury se recusou a participar do julgamento, dizendo não reconhecer a legitimidade da Justiça britânica. Mas ela apareceu por um link de vídeo de uma prisão em Londres para o sentenciamento na quarta-feira, quando o juiz, sir Jeremy Cooke, disse que ela teria que cumprir um mínimo de 15 anos antes de poder se candidatar à liberdade condicional. Ele descreveu Choudhury como sendo “uma mulher jovem inteligente que absorveu ideias imorais e padrões errados de pensamento”, acrescentando: “Você não sofre de nenhuma doença mental. Você simplesmente cometeu atos malignos de modo frio e deliberado”.
O YouTube já enfrentou outros períodos de pressão para remoção de vídeos ligados a radicais islâmicos.
Jeffrey Rosen, um professor de Direito da Universidade George Washington e que escreveu extensamente sobre as políticas do YouTube, inclusive para a “The New York Times Magazine”, disse que, em 2007, o governo trabalhista no Reino Unido pediu ao YouTube para que bloqueasse os vídeos de recrutamento terrorista exibindo combatentes islâmicos com armas e foguetes.
Em maio, a equipe do senador Joseph I. Lieberman pediu ao Google pela remoção de cerca de 120 vídeos de recrutamento terrorista do YouTube. O Google removeu alguns vídeos que mostravam violência gratuita ou discurso de ódio, mas se recusou a remover outros.
“O YouTube e o Google merecem crédito por tentarem distinguir vídeos que são meramente ofensivos daqueles que mostram violência explícita, discursos de ódio ou em que há risco de incitarem violência iminente, o que está de acordo com o que os tribunais americanos traçaram em casos de liberdade de expressão desde os anos 60”, disse Rosen em uma entrevista na quarta-feira.
Fonte: The New York Times
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